RAQUEL SARACENI LANÇA "O TEMPO ME GUARDOU VOCÊ"

Por Hugo Sukman (Jornalista e escritor)

"O tempo me guardou você" é, antes de tudo, uma coleção de canções das mais lindas compostas nos últimos tempos no Brasil
(e, por conseguinte, no mundo). E isso, é lógico, bastaria.

 

Entre inéditas como "Um gesto qualquer de carinho" (um raríssimo Ivan Lins sem parceiro na letra), clássicos como o samba "Amor até o fim" (Gilberto Gil), e segredos contemporâneos redescobertos como "Samba sem você" (um daqueles deliciosos sincopados de Rosa Passos e Fernando de Oliveira), o disco de estreia de Raquel Saraceni traz um deslumbramento atrás do outro. E, com perdão da ênfase e sem medo do exagero, não há momento sequer médio no repertório, composto exclusivamente por dez grandes, imensas canções (ainda que o clima seja sempre suave, delicado, íntimo, confessional até). Mas "O tempo me guardou você" não é simplesmente uma coletânea de lindas canções - embora, repito, isso bastasse. Trata-se de um disco radicalmente conceitual e autobiográfico.

 

O conceito está em que todas as canções falam não apenas de amor (o que em si não seria novidade), mas de amores longos, suspensos no tempo, interrompidos por separações, ausências, desencontros mas que no fim se realizam plenamente. É exatamente sobre isso a obra-prima da recente safra de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, "É o amor outra vez", a melodia mais linda (que faz, de Dori, hoje, talvez o maior compositor do mundo) e os versos com imagens tão precisas: "É o amor que dá vida ao meu peito/Pra eu jamais ver o tempo passar/É o amor que dá paz ao meu leito/E me ensina a sonhar/Só o amor faz um bem tão bem feito/Que o destino não
vai desmanchar".

 

É sobre isso a canção-título, "O tempo me guardou você", uma das grandes canções da dupla Ivan Lins e Celso Viáfora, só gravada por Ivan ao vivo e que agora recebe sua primeira versão em estúdio: "Você não acredita/O quanto era escuro/Ter a luz e não lhe ver/Pega meu futuro/Jura que não vai perder/O tempo me guardou você".
E também é exatamente sobre isso a canção que abre o disco -
e expõe o conceito - "Acaso", outra de Ivan Lins, com letra de Abel Silva, na qual o amor ilumina tudo à sua volta: "Eu nem queria mais sofrer/A agonia da paixão/Nem tinha mais o que esquecer/Vivia
em paz, na solidão/Mas foi te encontrar e o futuro/ Chegou como um pressentimento/Meu olhos brilharam, brilharam/No escuro
da emoção".

 

Raquel Saraceni recupera, pela simples escolha das canções,
uma tradição de certa forma abandonada pelas cantoras brasileiras, de transformar os versos dos compositores em discurso próprio. Essa apropriação se dá também em termos musicais, tal a segurança e afinação com que ela - uma estreante em disco - passeia por canções tão delicadas e difíceis tecnicamente de cantar.

 

E é aí que entra o caráter autobiográfico do disco, na verdade resultado da parceria da cantora com o produtor, arranjador e compositor Sergio Saraceni, diretor musical do CD. Como nas canções do disco, Raquel e Sergio vivem uma longa história de amor:

 

 

os dois foram namorados há mais de 20 anos, viveram um longo tempo separados e, finalmente, em 2012, se reencontraram (e o velho amor). "Reencontrei o grande amor de quando eu tinha 20 anos, nos casamos e voltei ao Brasil, para o Rio de Janeiro",
diz Raquel, que entre 1991 e 2012 viveu na França, trabalhando
com música em grupos como o Trio Sabiá (ao lado do compositor brasileiro Carlos Sandroni) e o Lucky Jazz. "Foi essa parceria na
vida e na arte que fez com que o projeto de gravar um disco se tornasse real".

 

Além de produzir o disco, Sergio deu de presente a Raquel duas músicas compostas por ele, que traduzem completamente o conceito e a autobiografia do casal. "Um grande amor", parceria com Antonio Villeroy, parece contar a história dos dois: "Ai amor/Quanto tempo passou pra eu te ver voltar/E parece que nada mudou em nós/ E agora não vou mais deixar/Você longe de mim". Já em
"Doce castigo", com letra de Ronaldo Monteiro de Souza (parceiro
de Ivan Lins em clássicos como "Madalena"), a canção descreve aquele amor que nem o tempo nem nada pode evitar: "Coração é
só seu e você tem que acreditar/Não importa o que a gente passar/Só nós sabemos do sentimento".

 

Essa rigor conceitual do disco - grandes canções sobre grandes amores e sentimentos - fez com que Raquel regravasse outra obra-prima contemporânea, "Fora de hora", a primeira parceria de Dori Caymmi e Chico Buarque. A única exceção ao conceito está no
faixa que fecha o CD, o inédito "Samba de vison", uma chiquérrima parceria de Ivan Lins com o compositor francês Michel Legrand,
cuja letra de Claudio Lins prossegue a riquíssima tradição na música brasileira (sobretudo o samba) em misturar referências cariocas e francesas. Mas, se não está no conceito, encaixa-se perfeitamente no caráter autobiográfico do disco, e na profunda relação de Raquel com a França, país de origem de sua família, e para o qual voltou no auge da crise política, econômica e existencial do Brasil nos tempos do governo Collor. “O samba situa o disco no tempo presente,
no Rio, onde nos conhecemos, nos reencontramos e onde vivemos”, completa Raquel.

 

Antes de ir para a França, Raquel era atriz (integrou o Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa, com 17 anos), que talvez explique o rigor artístico que agora se vê no seu CD de estreia como cantora. Nesta mesma época, ela tornou-se videasta e foi até responsável pelo arquivo eletrônico do Teatro Oficina. Quando se mudou para a França continuou seus estudos sobre cinema na Sorbonne mas sem nunca abandonar a música, paixão que vem da infância, e que continuou desenvolvendo na temporada francesa - o que talvez explique tamanha segurança técnica e de linguagem musical num trabalho de estreante.

 

Mas mesmo com todo conceito, com todas as histórias de vida que contém, "O tempo me guardou você" também merece ser ouvido pelo que simplesmente é em primeiro lugar: um disco de grandes e eternas canções brasileiras. E, pensando bem, isso basta.

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